segunda-feira, 24 de março de 2008

Casa de bonecas - Cap.2

Chá para Clara


- Oi.
- Oi. Entra! - disse Ana sorrindo.

Ana parecia estar feliz em me ver. Engraçada essa coisa de reencontrar
gente da infância. Eu nunca tive amizade com Ana. Para mim ela sempre
foi uma estranha. Não nos cumprimentávamos na escola e nunca fomos da mesma sala, de forma que, quando retornei à cidade ela era mesmo completamente estranha para mim. Não havia nenhum vínculo, não havia nada. Como podia ficar tão feliz em me ver?

- Geórgia me contou que você adora sequilhos - disse Ana esperando me agradar.

Ela me convidou para ir até à mesa. Estava posta: maravilhosa!

- Parece que Geórgia lhe contou sobre tudo que gosto - eu disse simpática e ela só sorriu com cara de "Sim, sou culpada, arranquei dela tudo sobre você...".

- Eu não vou fazer cerimônia. Vim correndo da prefeitura e não almocei.
Sabe, Geórgia é de casa, e as amigas dela também são minhas amigas. - disse Ana me deixando totalmente a vontade.

Achei aquilo ótimo. Detesto frequentar lugares onde as pessoas tentam
me deixar culpada pelo meu jeans surrado. A casa de Ana era maravilhosa, impecável, digna de uma mulher fina como ela. Mas, curiosamente, ela conseguia fazer todo aquele luxo combinar comigo. Logo comigo, uma mulher despojada, que não se importa muito com que as pessoas pensam.

- Veio para ficar? - perguntou-me olhando para a xícara de chá.
- Não sei ainda. Por enquanto é até Dona Teresa ficar boa, depois não
sei mais. - logo mudei de assunto - Estou tendo que redescobrir a
cidade. Tudo mudou muito por aqui.

Quando contei a Geórgia que minha volta tinha sido por causa do
agravamento da doença de vovó, também a pedi que não comentasse isso com outras pessoas. Vovó estava se debilitando cada vez mais. Não queria mais receber visitas, pois se sentia desconfortável com a perda dos cabelos. Se falássemos aos outros sobre isso, provavelmente encheriam a casa, e era justamente o que vovó, muito vaidosa, não queria. Por isso, não me alonguei com Ana sobre vovó. Por hora, só precisava saber que vovó estava se recuperando.

A tarde foi maravilhosa. Conversamos sobre amenidades, uma coisa bem
descompromissada de amigas que estão se conhecendo. Quando me despedi a noite já havia caído sem que a gente percebesse. Voltei para a fazenda. Vovó estava a minha espera.

2 comentários:

Camilla Tebet disse...

Vish, agora não tô entendendo? Vai seguir a história? pensei que fosse ser um tema por vez. espera, sou burra, vou ler de novo.

Narradora disse...

Eu to achando interessante...