sábado, 10 de maio de 2008

Casa de Bonecas - Capítulo 6



A Festa


Eu nunca consegui relaxar em véspera de festa. Sempre preocupada com os detalhes. Sou detalhista. As coisas têm que estar nos conformes, milimetricamente em seus devidos lugares. Mas sabia que no final de tudo, com a ajuda de dona Zica, daria tudo certo.

Os meninos do Jão e do Zé, a pedido de vovó, já haviam preparado a carne para o churrasco. Dona Zica e as meninas preparavam as delícias da minha infância. E eu estava feliz!

- Será que vamos dar conta de comer isso tudo? – falei olhando para toda aquela comida.
- E os menino dexa sobrar alguma coisa, Clarinha?!!! – Constatou dona Zica, já rindo do que falava.

Ouvi barulho de carro e fui até a varanda na frente do casarão. Eram os meninos chegando com a mesa. De tão grande, tiveram que posicioná-la verticalmente na caminhonete. E depois havia a preocupação de como tirá-la do galpão quando a festa acabasse, pois o acesso pela lateral, o único, era íngreme. Bom, decidi que não ia ficar pensando naquilo. Desci para o galpão, debaixo do casarão. Dona Teresa orientava os meninos. Achei excelente. Como vovó estava se envolvendo naquilo! Estava realmente mais animada e isso me deixava feliz.

- Não vá se exceder.
- parece que não dou conta – minha avó reclamou.

A noite, enfim, caiu. O aconchego do galpão nos chamava. A brisa anunciava que seria uma bela confraternização. Os meninos tocando moda de viola lembraram-me papai. Quando eu era criança, era ele quem comandava a roda, sempre muito animada. Vovó se sentou na cadeira de balanço, no canto. Ria para os meninos que tocavam. Parecia que estava se divertindo bastante.

Percebi a chegada de Ana quando ouvi a cantoria mais animada. Os meninos galantearam Ana com uma moda de viola. Ana corou. Eu ri. Achei aquilo tudo muito engraçado.

- Vê se posso com esses meninos danados! – estava vermelha.
- Eles são danados mesmo, Ana! – disse vovó sorrindo.
- Um pouco abusados, não é ?! – complementei.
- Deixa os meninos, Clara! – defendeu Ana.
- Às vezes ela é meio rabugenta mesmo, Ana! – riu vovó.

Eu ri também. Agarramos na prosa. A comida estava divina, a música definitivamente agradava os ouvidos. Mas ainda faltava Geórgia. Lá pelas tantas ela apareceu. Juntou-se a nós na boa conversa. As horas fugiram de nós e permanecemos ali. Vovó foi apanhada pelo sono, assim como todos os outros. A fogueira mais adiante, sob as estrelas, cercava o quarto lado do galpão que ainda permanecia quente. Restamos as três, noite adentro numa prosa que não tinha fim.

- Geórgia, você perdeu a entrada triunfal de Ana hoje mais cedo. – ri.
- Não brinca?! – falava Geórgia levando a mão na boca mostrando espanto.
- Com direito a música pra mulher bonita e tudo!
- Mas essa Ana!!! – falava Geórgia já um pouco alta por causa do vinho.
Rimos da cara boba que fez Ana. Eu havia notado os olhares do mais velho de Jão pra Ana. Decidi cutucar!
- Vocês viram como o Horácio cresceu?
- Uma delicinha, não é? – Geórgia estava alta mesmo!
- É sim, amiga. Não acha Ana? – perguntei esperando a reação dela.
- Acho... Acho sim!

Neste momento Geórgia olhou pra mim. Eu olhei para ela. Depois olhamos juntas pra Ana: gargalhamos as três! As luzes da cozinha se acenderam, criando um grande facho no quintal, competindo com a fogueira.

- Acho que rimos alto demais! – disse Ana.

Levamos as mãos na boca num riso sufocado. Coisa de meninas arteiras com medo do castigo. Saí da cobertura do galpão olhando para cima, focando a janela. Era dona Zica, quase num sussurro.

- Clarinha, sua avó já dorme!
- Vamos moderar Zica! – prometi a ela.

Olhei para Ana e Geórgia que ainda riam. Levei o dedo indicador aos lábios para que se contivessem.

Geórgia tão solta, sem saltos e sem maquiagem, como eu nunca havia visto antes! Ana tímida, mas revelando sentimentos... E logo Ana, tão altiva, agora tímida?

- E você, Clara? – disse Geórgia não conseguindo mais segurar nenhuma dúvida.
- Eu o quê, Geórgia? – falei já esperando o que estava por vir.
- Sei que tem alguém te esperando na Capital. Conta!
- Agora é a minha vez de rir. – disse Ana.
- E a minha vez de corar? – falei descontraída.
- Não enrola Clara! – dizia Geórgia.

Eu olhei em direção à fogueira. Olhei para o céu e constatei que a madrugada realmente seria longa.

4 comentários:

Narradora disse...

Tenho acompanhado, e agora fiquei ainda mais curiosa.
Bjs

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Nossa, que belo texto, aqui fiquei um bom tempo. Volto avisitar este blog.adorei.
marthacorreaonline.blogspot.com

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mirela das Neves disse...

É pedir para morrer de curiosidade ler toda a história e chegar no final não saber o desfecho... Faz assim não!!
Adorei o blog, achei a idéia de duas pessoas e quatro mãos para produzir genial... Parabéns!!!
=]